*Por Hilton Souza.
Em tempos de renovação e início de um novo ciclo na seleção brasileira, seria normal – e até previsível – seguirem-se a uma vitória sobre a Argentina uma série de análises recheadas de otimismo exacerbado e ufanismo.
Bem, nossa história recente mostra que a empolgação excessiva com inícios de trabalho na seleção tende a ser imprudente (vide os ciclos anteriores do próprio Dunga, de Felipão e de Mano Menezes).
Porém, é impossível não perceber alguns sinais de que o trabalho de adequação tática da seleção ao chamado futebol moderno segue um rumo interessante, assim como os processos de escolha e preparação de uma nova geração de jogadores.
Dunga parece ter optado por laterais que proporcionam ao time maior solidez defensiva (Danilo e Filipe Luis).
Isto fez com que Oscar e Willian não tivessem que ocupar, com tanta frequência, a linha de fundo defensiva, como faziam Hulk e o próprio Oscar, com Felipão.
Outro ganho tático desta opção foi a possibilidade de mandar a campo uma escalação, em tese, mais ofensiva, com apenas um volante de ofício (Luiz Gustavo), Três meias (Elias, Willian e Oscar) e dois atacantes (Neymar e Tardelli).
O resultado disso é uma equipe mais compacta que, sem a bola, ocupa mais a faixa central do campo, dá ao adversário menos espaço pra trabalhar e o mantém mais afastado da grande área.
Esta compactação também teve reflexos no trabalho ofensivo, a maior quantidade de meias permitiu ao time chegar ao ataque de forma mais rápida e com mais jogadores.
Aquela frustrante inferioridade numérica no campo de ataque parece ser, pouco a pouco, superada, assim como a dependência de Neymar (já que a equipe teve uma atuação convincente contra um adversário tradicional, mesmo num dia ruim de seu camisa 10).
Contudo, os méritos de Dunga no embate contra nosso maior rival não se restringem à suas escolhas na escalação.
Sabemos que Dunga tem suas limitações, não nos apresentará nenhuma grande novidade tática, muito menos um futebol vistoso, mas parece ter dado ao time uma consciência tática e coletiva que nem se imaginava em julho.
A equipe soube, sobretudo no segundo tempo, anular as principais armas Argentinas.
Messi encontrou um combate correto tanto pelo meio (a cargo de Luiz Gustavo), quanto pela direita, quando foi bem marcado por Filipe Luis.
Este último, por sinal, já poderia ter integrado o elenco que disputou a copa, fosse Felipão um pouco mais coerente em suas escolhas.
Com a bola nos pés, o Brasil foi mais consciente e efetivo nos contra ataques, Willian (principalmente) e Neymar foram constantemente acionados, em velocidade, nos espaços deixados por Pereyra e Di Maria e produziram boas triangulações com Tardelli.
Se Neymar tivesse sido mais participativo ou Willian tivesse mais tranquilidade no último passe, um placar mais elástico poderia ter sido alcançado.
Tardelli, grande nome do jogo, é outro que poderia ter sido aproveitado mais cedo.
Na copa, teria sido uma opção de mais mobilidade e criatividade, quando a utilização de um centro avante fixo não desse resultado.
Com Jô pra substituir Fred, tínhamos, quando muito, a popular troca de “seis por meia dúzia”.
Há, porém, um detalhe a ser perseguido por Dunga na sequência de seu trabalho, o último passe.
William mostrou-se um jogador extremamente útil à equipe, é aplicado taticamente, é rápido e voluntarioso com a bola nos pés e dá uma consistência pelo lado direito do campo que Hulk nunca conseguiu proporcionar.
Entretanto, o meia do Chelsea é muito mais “trabalhador” que “cerebral”, lhe faltam a qualidade e a visão de jogo necessárias pra ser o responsável pelo último passe.
Oscar sempre deu sinais de que poderia assumir este papel, mas não tem mostrado a personalidade necessária pra ser o principal articulador de jogadas da seleção brasileira.
Pelo que vem demonstrando desde a temporada passada no Liverpool, Phillipe Coutinho poderia ser esse jogador.
Por ser muito jovem, poderia sentir o peso dessa responsabilidade, mesmo assim, em tempos de renovação, a tentativa vale a pena.
Outra ideia a ser amadurecida é a escalação de Hernanes como “camisa 8”.
Com ele, a seleção teria um jogador inteligente e qualificado para iniciar as jogadas, o que deu certo nas últimas campeãs do mundo, Alemanha e Espanha (com Xavi e Schweinstiger).
A segurança defensiva proporcionada por laterais mais fixos poderia tornar viável a escalação do meia da Inter de Milão na posição em que iniciou a carreira, no São Paulo.
A verdade é que Dunga, com todas as suas limitações, vem dando alguns passos à frente na reconstrução da seleção.
O ex-capitão mostra que acompanha o que acontece no mundo e que não preenche a semana com folgas e rachões, o que representa uma grande evolução em relação a seu antecessor.
Abraços!
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